O Sol parece uma brasa Na cinza do firmamento Sobre o campo sonolento Ninguém está de vigília Na lagoa, uma novilha Bebe de ventas franzidas E duas garças perdidas Sentam na grama tordilha No galpão tudo é silêncio A cachorrada cochila E a peonada se perfila Estirada nos arreios Só se escutam os floreios Da mamangava lobuna Fazendo zuada importuna Nos buracos dos esteios Hora de sesta o piazedo Sumiu-se direito à sanga Na rama junto a canga Que o cabeçalho se abraça Está um boi velho fumaça Que ruminando descansa Porque já trouxe de herança Remoer a própria desgraça Rompe o silêncio da sesta Na guajuvira da frente O tatata impertinente Do bico d'um pica-pau No galpão um índio mal Quase enleia na soitera A naniquinha peodera Que vem botar no girau Mas a soleira é mais forte Do que os gritos da galinha E até as chinas na cozinha Cochicham meio em segredo Não há rumor no arvoredo Nos bretes e nas mangueiras Dormem as velhas figueiras Só quem não dorme é o piazedo É hora de caçar lagarto E peleguear camoatim Hora das artes sem fim Que o grande faz que ignora Enquanto o guri de fora Criado no desamor Numa infância de rigor Só foi guri nessa hora Hora de sesta Saudade De juventude e de infância Hoje ao te ver a distância Quando a vida já raleia Igual um Sol que bruxuleia Num canhadão se perdendo Hoje afinal, eu compreendo Porque guri não sesteia