Do silêncio para o mundo Acordava sem motivo, só mais um dia cinza Sem alma no olhar, sem cor na retina O tempo passava, mas não cicatrizava E o mundo parecia rir quando ele chorava Sentava no canto, tentando sumir Falava com o nada, sem ninguém ouvir Era o estranho da sala, o peso da ausência Vivendo calado, morrendo em essência Perguntava pro teto: Por que eu sou assim? Sem resposta, sem rumo, começo e fim O peito era um quarto trancado, vazio E a mente, um deserto, perdido e sombrio Mas um dia eu vi que o Sol também nasce pra mim Que até no escuro florescem jardins Que a dor que me arrasta também me ensina E que até o silêncio, no fundo, me afina Hoje eu canto o que antes calei Hoje eu danço com a vida que eu nem notei Do abismo eu voltei, me refiz Descobri que é possível ser feliz Escrevi num papel tudo que me sufoca Transformei meu silêncio numa língua nova A rima virou grito, a dor, combustão E no peito bate agora outro coração Quem era sozinho agora se escuta Quem vivia no escuro hoje luta Percebi que ser estranho é ser raro E que o que me afasta, também é amparo Hoje falo por mim, não peço licença Aceitei minha dor, vesti minha presença Se a vida é batalha, eu sou meu exército E cada cicatriz virou meu mérito Sim, um dia eu vi que o Sol também nasce pra mim Que até no escuro florescem jardins Que a dor que me arrasta também me ensina E que até o silêncio, no fundo, me afina Hoje eu canto o que antes calei Hoje eu danço com a vida que eu nem notei Do abismo eu voltei, me refiz Descobri que é possível ser feliz Era um menino perdido no fundo de si Hoje é voz que ecoa, que insiste em seguir Do silêncio pro mundo, eu me reconectei E entendi: Eu sou mais do que imaginei