Não chora meu filho, dorme Parece que o céu desaba Num pranto feito de chuva Um raio rasga o espaço Sangrando a noite escura O vento parece louco Açoita o arvoredo Balança a quincha do rancho E o guri chora de medo Não chora meu filho, dorme Que o temporal vai passar E logo ao romper da aurora O Sol voltará a brilhar Embalado pelo afago Dorme ouvindo a cantiga E a mão pequena não larga O calor da mão amiga A noite que era um assombro Sumiu quando amanheceu Um dia o piá se viu homem E a mão amiga perdeu Não chora meu filho, dorme Que o temporal vai passar E logo ao romper da aurora O Sol voltará a brilhar E nesses tempos de medo Quantos temporais enfrenta Mas dizem que homem não chora Sofrena esse choro e aguenta! Chora sim! Feito criança Mentir pra si não precisa Um homem também tem medo Nos temporais dessa vida Não chora meu filho, dorme Que o temporal vai passar E logo ao romper da aurora O Sol voltará a brilhar