Num fundo, ermo de campo, onde quem cruza se vai Quase costeando o Uruguai, num rincão desses comuns Existe um silêncio eterno, de se escutá o pensamento E uma porteira do tempo, que dá caminho pra alguns A vida tem alma de estância, e conhece cada picada Recorre toda a invernada, quando a quietude repecha Vem buscar sua verdade, no que não tem argumento Onde a porteira do tempo, só dá razão pra quem fecha! Onde se invernam saudades, dessas que a gente constrói E ninguém sente que dói, por lhe guardar no passado Tem um palanque cravado, no campo do esquecimento Pois a porteira do tempo, só dá cruzada pra um lado! E neste fundo de campo, adonde fiz meu rincão É que existe um coração, ferido a ponta de sabre Que se curou por solito, mas não cuidou sentimentos Vendo a porteira do tempo, só dar destino a quem abre A retranca é mais pesada, por fechada a vida inteira Tem entre a trama e a tronqueira, um cadeado em abandono Só que lhe cortem os fios, pois só cruza o adeus do vento Porque a porteira do tempo, só dá o limite pra o dono