Meu aboio é urbano Eu canto o que vivo e vejo Satisfaço meu desejo Com a fumaça do cano Talvez veja o fim do ano Pelos lixões da cidade As sobras da humanidade Serão o meu alimento O que digo não invento Quase tudo é verdade Meu aboio é pesado E vem pra denunciar Aquele que escutar Sairá extasiado Esquecerá o passado Imaginará o futuro Com o ar bem limpo e puro Com pessoas mais honestas Dançando nas nossas festas Colhendo o fruto maduro Meu aboio é diferente Porque clama por justiça E a todos enfeitiça Co’essa viola plangente Que dá o tom descontente Com os donos do poder Que só vivem a querer Desvalorizar a cultura Cavar nossa sepultura Mas vamos sobreviver Meu aboio é retirante Pra tudo eu tenho jeito Luto em guerra, ganho pleito O meu verso é rompante Não me torno arrogante Luto mesmo com humildade O que digo é verdade Você pode ter certeza Vou tocando com destreza Esse aboio da cidade Meu aboio denuncia A covardia da gente Que se não rouba, mas mente E calúnias pronuncia Não vai à delegacia Contar o que há de errado Só sabe ficar parado E falando mal de tudo Quando sei, não fico mudo Meu aboio é revoltado Meu aboio fala sério Não está de brincadeira E não leva nem à beira Da solução do mistério Desde o tempo do império Do imperador Trajano Canto os males do engano Com toda veracidade Escutem por caridade Mais um desabafo humano Meu aboio é libertário Canto o que quiser agora Eu sei onde a fome mora Com seu jeito sanguinário Político e partidário Poesia da pobreza Desafiando a beleza Por isso que eu semeio As sementes pelo meio Confio na natureza Meu aboio chega ao fim Pegado na poesia Sabia mas não dizia Que vou terminar assim Cantei o bom e o ruim O humano e o desumano Cantei o desejo insano A mentira e a verdade Porque tudo isso cabe Nesse aboio urbano