A carne moída na lata de gente Cabeça espremida no tédio da espera O olho na luz pra poder não pirar, respirar No célere cérebro meu celular Célula Cela-elo, selo cerebral Sou ela, a tela, e além dela não passo de nau à deriva A vida, o amor e o mundo revelam-se em vídeos que pipocam Imagens dos outros são minhas imagens Mensagens em série Em séries, filmes, jogos, canções Prazer em dosadas porções Na medida do aperto das horas Lá vou eu, perdido do mundo, onde eu? Perdido do tempo, quando eu? Perdido na rede, que sou eu? Lá vou eu, perdido do mundo Onde eu, perdido do tempo Quando eu, perdido na rede que sou eu Instantâneas notícias A resposta mais precisa, a certeza mais cabal Das minhas e meias verdades do bem e do mal Tudo que eu quero Carro novo, móvel novo, tudo novo, tatuagem Maquiagem, viagem, viagra, dinheiro na mão Na palma da mão um romance, uma arma Um calmante, um consolo, a morte do não Lá vou eu, perdido do mundo, onde eu? Perdido do tempo, quando eu? Perdido na rede, que sou eu? Lá vou eu, perdido do mundo Onde eu, perdido do tempo Quando eu, perdido na rede que sou eu Eu sigo meu instinto animal Mas minha pulsão é pós-vital Sou, serei super-eu, serei super-homem virtual Sem carne ou cabeça, só olho e desejo, ciclope-cloaca Enredo sem fim nem começo Existência sem medo de não mais estar por aqui nem agora Agora serei 100% a presença mais bruta da ausência de mim