São tempos estranhos, e as palavras pesam Frases guardadas na garganta, sem nunca dizer A chuva cai, fina e indiferente Como se soubesse, mas fingisse esquecer Há um sabor amargo em tudo o que é eterno Como folhas secas que o vento esqueceu de levar Esse é o blues das verdades que nunca se falam Que ficam no peito, sufocadas, e calam É um blues sem pressa, mas com peso de pedra E um vazio tão grande que até o eco desanda Andamos na sombra de nossas próprias escolhas Cada passo é um risco, uma aposta, um erro É difícil crer que algum dia soubemos sorrir Pois a lembrança evapora, e o riso vira desterro As ilusões que nos mantinham de pé Foram levadas pelo tempo, e só nos restou a fé Esse é o blues das promessas não cumpridas Das esperanças partidas, das almas perdidas Um lamento calado, que atravessa o véu Como estrelas apagadas, no fundo do céu Às vezes, a gente se perde na estrada Em busca de algo que sempre escapa da mão Como sombras de sonhos que esvanecem ao toque Que brilham tão forte, mas nunca estão no chão E a vida segue, sem esperar, sem parar Entre risos velados e o medo de amar Esse é o blues dos que um dia já acreditaram Que o amor era simples e as dores passavam Mas crescemos e vimos o peso do chão E o blues se tornou a nossa oração Então deixo esse lamento vagar na noite Entre copos vazios e os versos de dor Porque o tempo passou, e deixou no peito Só um blues de outono, em busca de amor