Às vezes me sinto seco, meio deserto Como galho morto, um camelo Esperando oásis ou fogo Às vezes me sinto oco, um ovo Ou quase, sem clara ou gema Uma TV, na sala vazia, sem antena Ninguém pra assistir Um peixe no deserto que foge do anzol Mas não há anzol, nem peixe Apenasmente o deserto, você não tá perto, então Sou árvore plátano Despeço-me do verão com um sopro Flerte de quem pensa reviver um dia Mas o outono desnuda o pensamento Se pudesse voltar no tempo e Não posso e nem devo O tic-tac virou um frígido tic No inverno a lembrança de um toque O Sol que pintava seus cabelos Agora é cinza, monocromático Os cabelos se converteram em fio de arame Rígido, farpados, estáticos Quando eu tinha você, se é que tive Era carro no declive, sem freio No meio da descida eu parava E cadê você? Cadê A felicidade É gangorra no playgroud Ela sobe e desce No alto tomo um mezcal Embaixo café Um dejavú que nunca senti Ela sobe e desce Que nunca senti