No galho da goiabeira Pousou sabiá-laranjeira De olhos vazados de luz Está sem eira nem beira? Perdeu-se da companheira Na tarde cheia de azuis? Se o passarinho já sabe Que, ali, laranja não cabe Por que insiste em cantar? Sabiá, ó, vê se me empresta Teu canto, é só o que me resta E assim não posso ficar Êh, sabiá, voa breve Procura a flor que já esteve A ponto de se acabar Na tarde muito esquecida Da laranjeira perdida No último pé do pomar Um canto sem melodia Igual a monotonia Que está no meu coração Mas colherei a harmonia Que vem da boca do dia Que um dia foi solidão Com a doce jabuticaba Será que um dia se acaba E os lábios saibam a razão De quando, então, silencia O cego amor que nos guia Pra longe dessa canção? Êh, sabiá, voa breve Procura a flor que já esteve A ponto de se acabar Na tarde muito esquecida Da laranjeira perdida No último pé do pomar