Na infância era assim, perigoso e divertido Brincando com a mamona e no escorrega derretido Tomada de três pinos, só faltava virar brasa E a bike sem freio fazia curva na raça Carrinho de rolimã, capacete era só fé A gente descia o morro gritando: Segura o pé! Com tampa de panela, virava super-herói Se ralasse o Joelho, era mertiolate, e dói! Geladinho no saquinho, groselha e azul anil Na TV: Cavaleiros, Chaves e Fofão Brasil Dip'n'Lik e Ki-Suco, bala Soft traiçoeira Nono Sugar redondinha, quase a vida ia inteira! A mãe gritava: Vem pra casa! Era o fim do pique-esconde Mas a gente ignorava: Apanha, mas não responde Tinge a bolinha de gude, tazzo, pião, futebol Banho era de mangueira, de chinelo e sob o sol E tamo vivo, sem trauma, sem manual A vida era zoeira, perigo e muito quintal Com a alma lavada e cheia de cicatriz Na real, que tempo bom, a gente era feliz Tamarine na colher, Biotônico no pão E a merenda da escola é que dava emoção Sanduíche mortadela, embrulhado no jornal E a cantina vendia sonho e pastel marginal Tinha fita rebobinada com caneta Bic E Super Trunfo decidia quem era mais chique Videogame era raridade, só jogava quem podia Um Dynavision ou Control, com mil fios de improviso E tamo vivo, sem trauma, sem manual A vida era zoeira, perigo e muito quintal Com alma lavada e cheia de cicatriz Na real, que tempo bom, a gente era feliz A bala travando na garganta Escorrega quente fritando a bunda Rolimã sem freio na descida braba E ainda voltava sorrindo, ralado, cheio de lama E tamo vivo, sem trauma, sem manual A vida era zoeira, perigo e muito quintal Com alma lavada, e cheia de cicatriz Na real, que tempo bom, a gente era feliz