Sussurram os ecos Ele desce Como um trovão vestido de silêncio Caminhei entre árvores mortas Carregando máscaras, dívidas e promessas tortas Fui Jacó o que engana, o que finge E cada mentira foi uma unção de vinagre A noite caiu como pedra em meu peito O vale sussurrava um juízo perfeito E então Ele veio Um vulto entre os galhos, sem rosto, sem nome Como fogo em carne, como Deus em fome Suas mãos, vastas como o firmamento Me lançaram ao pó sem argumento Rasga minha carne Me marca com o céu Deus, besta sagrada, me arrasta pro fel Berrei no escuro, com a perna rasgada E Ele calado, mas Sua glória esmagava Os ecos do vale me fizeram morrer E um novo nome nasceu no meu sofrer Senti o toque ardia como inferno Mas era o Céu, em guerra contra o meu ego eterno Cada osso quebrado me dizia: Agora sim Agora você é meu, mesmo mancando assim Não era um anjo Não era homem Era Ele O Inominável O peso da Eternidade Num só gesto de toque mortal Lutei com Deus, e perdi Gritei até o último osso trincar Os ecos do vale ainda vivem em mim A dor que purifica, o sangue sem fim Jacó morreu com um grito na escuridão Israel nasceu, com Deus marcando a tua mão Manco, mas vivo Ele me venceu com amor brutal