Fui adaga quando moço, ventena à maneira antiga; hoje velho sou xerenga, desgastada pela vida. Me falta o calor do abraço de alguma guaiaca amiga. Quando moço, fui adaga, manejada com destreza; mas o tempo e a natureza modificaram meu porte; virei faca de bom corte, ganhei bainha de couro, também dois anéis de ouro enfeitando o cabo de osso. Larguei das artes de moço, me aquerenciei na cintura. Como faca fiz reparos no que a adaga fez de mal, lotei de charque o varal, fiz todo o ofício crioulo; até que o tempo, rebolo, me deixou meio capenga: de cabo e fio rebentado, eu passei a ser xerenga, eu passei a ser xerenga de cabo e fio rebentados. Já não “desquino” mais tentos, meu inverno está mais frio; e se a bainha sumiu, me “rebusco” na experiência; e apesar de eu ser xerenga, sou chuva, sol, sou semente, gente ensinando a ser gente, a plantar pátria e querência. gente… pátria… querência…