Um dia numa pracinha Avistei uma donzela Mal calçada e mal vestida Ninguém olhava pra ela Os olhos esverdeados Os cabelos castanhados A face era muito fina Corada e corpo bem feito Não se achava um defeito Naquela pobre menina Chegando pertinho dela Perguntei quem são seus pais? Disse ela eu tenho um padrasto Que me maltrata demais Minha mãe cega por ele As vezes por causa dele Me pôe de casa pra fora Um irmão que eu quero bem Por sofrer muito também Faz tempo que foi embora Meu padrasto é bem de vida Minha mãe bem remunerada O que meu pai deixou com ela A mim não pertence nada Meu alimento é mesquinho Só posso comer pouquinho É péssima a situação Tenho como recompensa Dormir dentro da despensa Sobre um rasgado colchão Me levanto bem cedinho Vou a luta começando Faço café limpo a casa Com minha mãe reclamando Quanto mais faço direito Mas ela acha mal feito Me chamando de ruim Faço almoço e lavo prato Mas meu padrasto é ingrato E só vive batendo em mim Se estou aqui nesta praça Lamentando a minha vida É porque hoje meu dia Errei o sal na comida Minha mãe mandou-me embora Botou de casa pra fora Pois nunca vi tão ingrata Meu padrasto a reclamar Dizendo se eu voltar Com certeza ele me mata Se eu ficar eles me batem Se me escondo eles vão atrás Me botam pra fazer tudo E por mim ninguém nada faz Sou eu quem faço a limpeza Da cozinha até a mesa E ainda costuro também Pra minha mãe e meu padrasto Comigo ninguém faz gasto Esta é a roupa que eu tenho Desde que meu pai morreu Trabalho igual um cativo Estudo tive o primário Pois fiz quando ele era vivo Não tenho felicidade Não posso ter amizade Com uma colega vizinha Nem roupa tenho pra vestir Não tenho com quem sair É grande a tristeza minha As moças da vizinhança Me chamam de retardada Nem o pior vagabundo Me quer pra ser namorada Vejo as lágrimas de desgosto Caindo sobre o meu rosto Num desengano sem fim São estes os pratos meu Moço diga porque Deus Me despreza tanto assim? Fitando seus lindos olhos Transpassado de tristeza Conheci que seu coração Tinha pudor e grandeza Quanto mais jorrava pranto Mas aumentava o encanto Pois a menina era bela Não resistindo chorei Fui embora mas passei A noite pensando nela Se dormia era sonhando Com ela a todo momento Lhe vi de véu e grinalda Dentro do meu pensamento Levantei no outro dia Pensando na grosseria Dos seus pais batendo nela Não é coisa que se faça Voltei de novo na praça Afim de encontrar com ela Procurei o mês inteiro Meu peito ficou vazio Um dia levei meu carro Pra lavar dentro de um rio Era um domingo a tardinha Quando avistei a mocinha Lavando roupa e chorando Disse a menina é aquela Quando cheguei perto dela Foi assim me perguntando Seu moço, porque o senhor Aparece em minha frente? Daquele dia pra cá Nunca mais tirei da mente Que você era um anjo Rodeado de arcanjo Que vinha pra me salvar Mas como não é certeza O senhor ver minha tristeza Cada vez mais aumentar Eu disse para mocinha Voltei pra te procurar Porque desde daquele dia Não pude mais sossegar Nunca mais pude dormir Só vendo você sorrir Toda hora em minha frente Se acaso você quiser Poderá ser minha mulher E ser feliz eternamente Minha vida tu já conhece Não preciso contar mais Quero que você me leve Para a casa dos seus pais Só depois do casamento Que a gente escolhe o momento Para falar com os meus Eles tem que aceitar Pois não podem desmanchar O que está nas mãos de Deus Foi assim que aconteceu Pra cumprir o meu destino Ainda quis recusar Me chamando de granfino Mas depois acreditou E meu convite aceitou Pra completar sua lida Foi minha esposa amorosa Muito meiga e carinhosa E a dona da minha vida Foi minha esposa amorosa Muito meiga e carinhosa E a dona da minha vida