Eu agradeço a oportunidade O privilégio de poder falar e ser ouvido Nós somos feitos de um corte diferente O contato do meu corpo lastimável Com seu dorso inignorável Me provocaram a memória de uma constelação A memória de uma melodia Ao ouvir nossa música eu chorei Eu chorei porque te amei Ou eu chorei porque te fiz mal A dor a gente sente na carne, na carne, na carne Fazer o que se o coração bombeia sangue E o amor consome A mudança nunca é bela Como alguém tão linda assim Foi se apaixonar por um homem feito eu? Deve ser porque Deus nos fez assim Difícil de gostar, mas tão fácil de amar Não sou de acreditar, mas eu pensei Do porquê pra eu ter nascido assim, falando assim Imagino que alguma parte de um erro é sempre um acerto O contato do meu corpo duro com o seu molhado O melhor sexo é o aguardado? Ou é o que vem feito um trovão inesperado? Mas devo abrir meu coração Todo amor é feito pra acabar Está escrito nos livros, nas estrelas e no mar Mas lutar contra todo o fim é a nossa sina Se o nosso nome fosse um verbo Seu amor é uma grande mesa Onde eu encontro tudo A carne, as roupas, os livros e as plantas O homem quando ama trabalha melhor Trata os outros melhor, não quer mal a ninguém Pra quem já tentou varrer a areia da praia O que é mais um dia se sentindo um merda Toda vez que eu te via eu ficava com a barriga embrulhada Como se tivesse algo não dito, algo não resolvido O contato do meu corpo quente com o seu corpo frio Me provocaram a memória de um arrependimento A memória de uma casa A harmonia nos objetos Os cheiros tão reais A passagem do tempo Mas devo abrir meu coração Todo amor é feito pra acabar Está escrito nos livros, nas estrelas e no mar Mas lutar contra todo o fim é a nossa sina Se o nosso nome fosse um verbo Se isolar não é uma forma de se descobrir É apenas uma forma conveniente de fuga Nós somos feitos de um corte diferente O contato da sua pele com a minha pele me lembrou Das nossas lutas, de tudo que passamos até chegar aqui Eles querem a nossa carne, mas a nossa carne só pertence a gente Os sentimentos não são esquecidos, eles só se perdem por aí Deixam seus rastros, suas memórias Suas cicatrizes são sentidas eternamente Até quando não lembramos exatamente De onde veio esse sentimento que sinto agora? Eu sinto tudo, tudo nessa melodia Até que se faz completa a música Até que se faz completa a extensão do tempo que vivemos O tempo grita, a gente grita, a gente grita, a gente grita, a gente grita Abri seu ventre, sua boca, suas pernas e seus seios Abri seus olhos, seu pescoço, suas mãos e seus cabelos Entrei naquilo que não é seu e que não é meu Consumi seu corpo e o nosso amor No momento que se sente exausto e forte Sem nenhum medo, sem nenhum pudor Vira cheiro o que antes era fedor Vira amor o que antes era horror Tudo é movimento O ritmo carnal cuja proa irrompe a imagem de um barco Em uma enseada de infinitas bocas Recebendo com prazer o calor de um corpo nu que era um espelho O gozo que se exprime num sorriso No que podemos chamar de alegria Era um sangue que jorrava nostalgia Toquei onde é mais profundo, no fundo do interior O princípio é o que move O princípio da carne vai saber Um exercício simultâneo de corpos Que indica uma nova separação A finalidade é o que move A fim da carne vai saber A carne faz o homem suspirar A carne faz o homem soluçar A carne faz o homem explodir A carne faz o homem tremer as pernas A carne faz do homem um pedaço de fome A carne faz do homem um menino A carne faz o homem se humilhar A carne faz o homem sorrir, a carne faz o homem chorar A carne faz do homem um cachorro A carne faz o homem tão forte quanto um lobo A carne faz o homem latir A carne faz o homem uivar Auuuuuuu A carne, a carne, a carne, a carne, a carne Se nosso nome fosse um verbo seria amar