Eu tinha uma letra escrita Um beat pronto Outros amigos compondo Eu tava pronto pra escrever Prestes a estrear um conto Que eu nunca contei Mas sei que só de sair de mim É uma história De pobre e de rei e assim Eu sei que atingi a meia idade De quem era atingido Na idade média Pelas rédeas da vida Sem saída, e que só pede a Todo mundo que por ela Passasse um pedaço de si Sem dó, na ré que é Sair daí e vir aqui Pra ouvir que já há muito tempo Eu tô na linha sucessória De fazer história Dou lances em lotes Da minha própria memória E como Galahad O perfeito que nunca erra Eu subo a serra Sem alarde, sendo prefeito Na terra em que Ninguém me supera Era pra ser Arthur Mas vim Álvaro Nunca entendi por conta de que Se eu fiz as contas todas certas Conta pra mim Como que eu fui me fuder Rimo por cima de sample Na arte sou um Pequeno gafanhoto Nascido na terra Em que todo Bill é canhoto Sem medo de capiroto Eu amo a dama do rio E de janeiro A qualquer momento Só de estar com ela eu sorrio Sou frio, por fogo nas bruxas É o que me esquenta Das que se fala nas ruas Eu só respeito A Lenda Eu tenho o Santo Graal Agradeço ao Marcelo Gugu E tantos outros MCs Que me inspiram a ser Um pouco mais Que nem o ET Bilu E buscar conhecimento Sou lento, demorei a entender Que eu tinha talento Diga a Merlin que O que ele não souber fazer Eu vou lá, dou meu jeito E invento Caçar assombração Nos castelos daqui Nunca me fez jus Passar missão de chinelo Na verdade é a força Que me conduz Tiro sangue e pus O dedo ferido adentro Abre a porta, eu entro Mostre o mundo Que eu vou lá e enfrento Eu tenho essa mania chata De ser anacrônico, memento Uma arte de estar atrás E a frente do seu próprio tempo Eu sou a lei que não se dá bem Com a ideia de vassalagem Mas sou a suserania A qual não compete Nenhum tipo de vassalagem A sua falta de constituição moral Tira meu viés total E esqueço que escrevo pra mim E foco só em vencer o mal Salafrário, num tempo Em que tantos Se escondem no armário Eu visto o elmo, em frente Avante cavaleiro templário É temporário? Talvez Eu nunca entendi Quando acaba a minha vez E começa a dos outros Sou mouro mas Sempre venerei os seus reis O problema é que Quando entendi a incongruência Doeu no couro E como um touro sedento Eu fui lá e saqueei todo o seu ouro Eu nunca estouro Nunca fui revolução alguma Na balança do destino Meu coração iguala a pluma Minha alma fuma Minha cabeça bebe, e segue Pensando como eu posso Agradar a plebe E enseja que seja ainda Mais puro que a Mais amarga cerveja E nessa guerra sem santos Eu brado a minha excalibur Taco fogo em tudo De Krakaton a Licancabur Ce n’est pas un calembour De Jerusalém a Ur Eu sou quem eles venerem De Nippur a Azincouty Tinha meus onze anos Era gago, ato e pensamento vago E o que ganhei foi uma bic Da dama do lago Eu que sempre fui falho Com métrica e linha Usei a bic pra sair da média Na metade da minha vida E vi que não precisa ser mestiço Ou bastardo pra ser exilado Na real? Nem é preciso estar errado Sou seu mestre de armas E domo qualquer cavalo Até de Tróia Mas tive meu coração roubado Não me culpe outra vez É errado eu sei Mas o buraco em meu peito Nunca teve o nome de um rei Ansiei pelas passagens e ritos Nomearam-me Merlin Sem conhecer nenhum Dos feitiços Decepção Títulos são apenas títulos Como dizer que é vivo Sem nunca nem ter vivido Era pra ser Arthur Mas vim Gustavo E seu muito bem o porquê Se eu fosse rei imagina A merda que isso ia ser Plano em governo? Discurso que sempre evitei Entalhei rimas na pedra E quem tirar vira rei Eu sei Fui Maximus em coliseus Também fui o Máximo Pra amigos meus Pois bem pesadelos Pra alguns dos seus Meu bem, tocando Eu fui Orfeu Meus dias se resumem Em matas Dragões Enquanto outros se exaurem Com os seus leões Banhei minha caneta Com sangue Corações sou o guerreiro Que foi além das constelações Mas sou só um foragido Sobrevivendo às cruzadas Um paladino perdido Que já não sabe de nada Piada nem foi contada Minha história E riram como do Arthur Antes da espada e glória Olha, não é à toa Que eu vivo insonio Pois queimei as bruxas Mas não matei meus demônios