Querência e infância! Dois galardões de saudade! Reminiscência que invade, lembranças do que vivi Do rancho que um dia ergui nu'a sombra de Corunília Onde amansei a tropilha que em versos hoje escrevi Na infância fui ginete, domei potro endiabrado Zaino, baio, algum tostado, o pelo eu não escolhia No galpão é que eu fazia um por vez cada potrilho Eram sabugos de milho os baguais do meu passado! Num ranchito de argila coberto de macegão Fazia o fogo de chão para esquentar a minha marca Um c', de cuera monarca, cusquilhoso e caborteiro Caçapavano e campeiro, com tino de bom peão O palanque era entalhado num toquinho de faxina O laço de trança fina de imbira bem sovada Que em quatro dedos de armada em direção ao pescoço Terminava com o alvoroço e já vinha arrancando crina Marcado e manso debaixo com jeito eu botava o freio Solito e sem rodeio pulava firme no lombo De vez em quando, um tombo! Pois aprende quem vai pros ares! Já dizia o Adão Soares da Costa do passo feio Se corcoveasse parado cortava a roseta embaixo E se o corcove era de cacho, destes de embrulhar o bucho! Eu até me dava o luxo de ajeitar o chapéu E co'mango cortando o céu apertava o barbicacho O mango? Ah, o mango era flor de bueno Feitio d'um velho guasqueiro Argolinha de chaveiro e cola de lagartixa Que num grito de não te imbicha que agora te mostro o rumo Fez trotar com jeito e prumo muito potro caborteiro Nesta estância de três braças, debaixo de uma Corunília Fui domando minha tropilha com fama de bom ginete Nenhum pingo com cacoete nem assustado ou babão E, com garras de redomão, segui dobrando flexilha Hoje longe do meu pago, da mãe pátria sentinela Com a sina de abrir cancela e orgulho de domador Não peço amadrinhador pelos lançantes da vida