Me olho no espelho, tentando enxergar A paz no olhar que a rua tenta apagar Creio em Deus, que Ele me proteja Mas não acredito na igreja Não sou rato de livro sagrado Rapper é rapper, pastor é mercado Falo do peito, da dor e do amor Não aceito julgamento do opressor Crente que se diz santo e aponta o dedo Mas tem pacto com o diabo em segredo Cita a Bíblia, mas ignora o respeito Julga meu palavrão, mas carrega preconceito Rap é linguagem da periferia Pra libertar mente, não vender fantasia Quer pregar? Vira pastor Aqui é MC, é outra dor Pastor só no altar, aqui é MC no chão Rap é consciência, não é doutrinação Fala muito de Deus, mas vive de arrogância Quer salvar o mundo, mas despreza a esperança A bandidagem entende o recado Verme é verme, não tem lado Inferno é aqui, sem amor nem justiça A morte é paz pra quem vive na pista Não creio em punição pós-morte Você presta conta em vida, sem sorte Canto pra quem quer recomeçar Pra quem a sociedade insiste em apagar Prostituta, menor, abandonado Sem teto, sem rumo, largado Você só condena quem não é da sua fé Mas fé não é farda, entenda, mané Pastor só no altar, aqui é MC no chão Rap é consciência, não é doutrinação Fala muito de Deus, mas vive de arrogância Quer salvar o mundo, mas despreza a esperança Critica o terreiro, o espiritismo, o umbanda Diz que só sua igreja salva e comanda Mas e o bem que vem de outras crenças? Você ignora, prega a indiferença Fala, fala, fala, mas sem noção Sua rima parece oração Aqui o palco é lugar de verdade E não pra impor sua autoridade Respeita o espaço, respeita o som Não tenta apagar quem pensa fora do tom Sou Mano Nivas, voz da rua e do povo Se não soma, sai do jogo Pastor só no altar, MC com o povo na mão Enquanto você julga, eu construo união Fé se pratica, não se impõe com discurso Rap é meu culto, e a favela é meu curso