Benedito é meio cego de nascença Não vê direito a luz do Sol Desde pequeno se sentia diferente E andava sempre só Mas Benedito sempre foi muito esperto Tinha coragem e decisão Já enfrentou até uma gangue de pivetes pra defender O seu irmão Vendia doce o centro da cidade pra ajudar a sua mãe E o seu pai foi num boteco de esquina Para nunca mais voltar, é que o safado abandonou sua Família e foi embora para capital Deixou pra trás sua mulher e cinco filhos Numa pobreza desigual Apaixonado enganado e seduzido Por um romance passional Morreu largado embriagado e esquecido Numa cama de jornal E a sua mãe que sempre foi muito honesta Começou a trabalhar Lavava roupa na casa de madame Não tinha hora para descansar Ela acordava todo dia muito cedo Fazia doce pra vender Ganhava pouco quase nada em dois empregos e Trabalhava até o anoitecer De vez em quando batia um desespero e ela chorava Para esquecer Benedito andava meio triste Porque não dava para estudar Além de tudo ele era muito pobre Não tinha nem o que calçar Sua caneta sempre foi uma enxada E a obrigação de trabalhar Mas Benedito não perdia a esperança da sua vida Melhorar e alguma coisa lhe dizia na cabeça A minha hora ainda vai chegar Mas teve um dia que os doces acabaram E sobrou tempo para passear Andou na rua mais bonita da cidade E começou logo a sonhar Se eu também tivesse uma linda casa E algum dinheiro pra gastar Eu poderia ajudar minha família Fazer minha mãe se orgulhar Mas é que o sonho quase virou pesadelo quando um Guarda se aproximou discriminando e humilhando Benedito por sua classe, sua cor Vai circulando por aí seu vagabundo A vizinhança já reclamou Mas como Deus escreve certo em linha torta Pra confundir sua razão A casa grande foi tomada pelo fogo Pelo barulho da explosão Não é preciso ser um cara muito esperto Fica bem fácil de perceber Que aquele guarda que se achava muito certo Foi o primeiro a correr Benedito olhou numa janela E viu alguém louco a gritar E era só uma criança inocente Não teve tempo de escapar E Benedito correu muito depressa Como se fosse pra roubar E alcançando o teto da garagem Conseguiu no incêndio entrar E protegendo a criança inocente Ele pulou do segundo andar E a multidão que por ali se aglomerava Aplaudiu o nosso herói E na cidade todo mundo comentava Que Benedito é o melhor E o jornal e a TV logo chegaram Fazendo tudo tão igual E Benedito rapaz negro e muito pobre Trabalhador e coisa e tal Teve seu dia de famoso importante - Foi em cadeia nacional O delegado, o sacristão e o prefeito Trataram logo de se enturmar O argumento do momento era perfeito E a eleição estava pra chegar E Benedito ganhou uma medalha Que era dourada e de latão E na cidade todo mundo comentava Oh! O Benedito na televisão Benedito que também não era besta Resolveu se aproveitar E conseguiu que alguém lhe desse um bom Emprego e foi atrás de estudar Venceu a fome, o racismo e a pobreza Cabeça erguida e sem reclamar E Benedito se formou advogado Que é para os pobres ajudar E se casou com uma amiga de infância Que costumava lhe dizer Benedito se você não tem um sonho Não tem motivos pra viver A mão de Deus escreve certo em linha torta Que é para o homem não entender