Tu que me vê pelas ruas Pisando este asfalto quente Com este boné rasgado Na boca falta de dente Com esta calça esfarrapada E esta cara de indigente Não vê que eu fui fazendeiro Nos tempos de antigamente Por uns negócios malfeitos Uma seca e uma enchente Eu perdi meu patrimônio Vim procurar outro ambiente Por estas ruas andei Empregos não encontrei Por isso né transformei Neste farrapo de gente Com essa carroça velha Vivo juntando sucata Papelão e alumínio Ferro cobre zinco e lata Eu que sesteava tranquilo Na sombra fresca da mata Hoje divido um viaduto Entre sapos e baratas Não tenho salário fixo Nem uma morada exata A carroça é eu que puxo Pra cumprir minha sorte ingrata A vida me deu um pealo Eu que na pampa fui galo Me transformei num cavalo Sem ferradura nas patas As vezes me representa Que estou pagando pecado Eu que fui um Taura forte Hoje sou um velho estropiado Porém existe um detalhe Que me deixa conformado Não peço esmola a ninguém Nem compro nada fiado As sucatas que eu vendo Sempre rende alguns trocados Pra mim ir sobrevivendo Neste viver desgraçado Sonho com os tempos antigos Pergunto aos outros mendigos Aonde anda os amigos Que eu ajudei no passado Ajudei erguer igrejas Pra receber peregrinos E hoje em dia não me deixam Nem puxar a corda do sino Hoje eu bebo em litro plástico Mas já bebi em copo fino Só não perdi a hombridade Que eu trago desde menino Mesmo em más companhias Não roubo e não sou assassino Qualquer um está sujeito Se transformar num teatino Tem gente que vive bem Tem outros que nada têm Pois Deus não diz a ninguém Qual será o nosso destino