Você sabe de onde eu venho? Venho do morro, do Engenho Das selvas, dos cafezais Da boa terra do coco Da choupana onde um é pouco Dois é bom, três é demais Venho das praias sedosas Das montanhas alterosas Do pampa, do seringal Das margens crespas dos rios Dos verdes mares bravios Da minha terra Natal Por mais terras que eu percorra Não permita Deus que eu morra Sem que volte para lá Eu venho da minha terra Da casa branca da serra E do luar do meu sertão Deixei lá atrás meu terreno Meu limão, meu limoeiro Meu pé de jacarandá Minha casa pequenina Lá no alto da colina Onde canta o sabiá Você sabe de onde eu venho? É de uma Pátria que eu tenho No bojo do meu violão Que de viver em meu peito Foi até tomando jeito De um enorme coração Venho do verde mais belo Do mais dourado amarelo Do azul mais cheio de luz Cheio de estrelas prateadas Que se ajoelham deslumbradas Fazendo o sinal da Cruz Por mais terras que eu percorra Não permita Deus que eu morra Sem que volte para lá A alma peregrina sabe desfrutar dos sabores de onde está Sabe rir, dormir e acordar Mas sabe, não consegue não saber, que vem de outro lugar Fica estampado no espelho sempre que se olha o próprio rosto Alguém sempre vai dar um jeito de te lembrar Você não é daqui! De onde vêm? Pode se arrumar como um deles e comer o que eles comem Mas todo dia alguém percebe Escapa pela íris dos olhos Dá pra ver, não é daqui O que te faz suportar essa jornada de estar sempre a procura do seu lugar Ora, é a alegria que se encontra na estrada A esperança coletiva de chegar Os pais, as mães, os irmãos, tanto irmãos que se acham no caminho Cada um tem uma cor, uma história diferente Mas todos vazam pela íris do olhar o mesmo segredo Eu não sou daqui! Caminhar é brincar de Deus Movimento é expandir o ser É descobrir que o quintal da sua casa é maior do que você supunha É encontrar casa em todo lugar E perceber, que de todas as virtudes de Deus A mais curiosa é que Ele sabe falar em qualquer língua