De súbito me assalta um desejo de caminhar Ainda não sei exatamente para qual direção Mas já entendo movimento Vou Movimento é vida Sair do lugar Pra onde exatamente? Mesmo que ainda não se tenha a resposta Já se conhece, no entanto, a ação a fazer Ir Caminhar é brincar de ser Deus Ele que se movia por cima das águas Quando nenhuma estrada ainda havia sido rasgada no chão O Menino Jesus O que foi senão um forasteiro? Levado no meio da noite de Belém pra dentro do Egito Como se carregasse na sua alma recém-encarnada Um crime feito pelo qual deveria morrer Mas ao invés da morte Ganha a estrada como sentença O crime quem fez fomos nós Quem fugia, desde então, da sentença inevitável da morte Abrindo estradas, construindo torres, embarcações, fugindo, éramos nós Mas o menino Jesus Desde seus primeiros momentos Identificou-se com os que fogem Com os que andam Embora sendo majestade em sua pátria Veio aqui lavar pés, assar peixe na praia, servir vinho e pão Era o príncipe dos seus Mas por aqui não Não passou de um forasteiro, de sotaque carregado Só se podia entender mesmo o que ele dizia com coração O amor é o idioma intergaláctico que une forasteiros e nativos Assim ele andou Mas andou muito Passeou por aí Mil caminhadas, talvez mais Sabe Deus quantos quilômetros tem de seu trono até a Palestina Quanta andança foi necessária depois do último suspiro no madeiro Até o domingo matutino da ressurreição Segue-me Viver é caminhar Mesmo que não se conheça o destino ou a estrada O caminhante conhece o guia que diz Segue-me