Tem uma voz gritando atrás da parede Diz que sou eu Mas não me reconhece As horas quebram como espelhos no chão E eu coleciono cacos na palma da mão O tempo parou na fresta da dor E a luz não entra mais por onde passou A janela insiste em nunca abrir Como se o mundo lá fora quisesse fugir A janela que não abre me olha também Com olhos vazios, me trata tão bem Me diz que é melhor não sair desse chão Que aqui dentro é mais seguro que a ilusão Grito, mas só o eco quer me ouvir Falo comigo pra não sumir Me abraço com medo de evaporar Sou só uma sombra tentando respirar Desenho sorrisos no teto mofado Finjo que estou sendo observado Mas quando piscam as luzes do corredor Vejo vultos dançando com minha dor Eles dizem verdades que nunca pedi Assinam cartas que eu nunca escrevi E eu apenas assisto, calado, a cair Na minha própria ausência, sem resistir A janela que não abre me olha também Com olhos vazios, me trata tão bem Me diz que é melhor não sair desse chão Que aqui dentro é mais seguro que a ilusão Grito, mas só o eco quer me ouvir Falo comigo pra não sumir Me abraço com medo de evaporar Sou só uma sombra tentando respirar Será que fui eu quem trancou essa janela? Ou será que o mundo desistiu da minha vela? Me afogo em pensamentos que não são meus Mas sou eu quem chora Ou alguém por trás dos meus olhos? A janela que não abre já me conhece Sabe meu nome, meu medo, me esquece Diz que lá fora é só ilusão em flor Que a dor aqui dentro tem mais sabor Então eu fico, eu não fujo, eu me deito Com minhas vozes fazendo o meu leito A janela não abre, mas não faz mal Aqui sou um prisioneiro E também o meu final