Acordo ouvindo passos no corredor Vozes que sussurram meu nome sem pudor Eles riem das feridas que escondo no cobertor Mas eu sorrio, mesmo sem amor No espelho, um estranho me encara com dor Diz que sou fraco, que perdi o valor Mas eu rezo baixinho, pedindo ao Senhor Que eles encontrem a paz que me negou Eu vi olhares me julgando na multidão Mãos que eu ajudei hoje seguram o facão Mas eu ainda estendo a minha mão Desejo tudo de bom a eles Embora eles queiram meu fim Meu coração ainda sangra calado Mas não deixo morrer o que há de mim Eles cospem onde eu plantei carinho Mas eu sigo sozinho no meu jardim Desejo tudo de bom a eles Mesmo que apaguem meu clarim Tem dias que o teto conversa comigo Tem dias que o chão é meu único abrigo Mas nunca joguei veneno no trigo Mesmo quando o mundo foi meu inimigo Carrego cartas que nunca enviei Com palavras que nunca direi Eles acham que eu enlouqueci, talvez Mas só eu sei o quanto chorei E mesmo ouvindo vozes que querem me arrastar Eu escrevo poesia pra não me matar Eles zombam, mas eu vou cantar Desejo tudo de bom a eles Embora eles queiram meu fim Meu silêncio é um grito velado Minha alma é um velho tamborim Eles riem enquanto eu desabo Mas não sabem o que carrego em mim Desejo tudo de bom a eles Mesmo que risquem meu jardim Se eu sumir numa manhã qualquer Saibam: Lutei até onde deu pra ser Não deixei ódio, deixei flores no chão E um perdão enterrado no coração