Era um anjinho escondido atrás da casa Logo eu que tinha asas trocava as cores do céu Eu só queria atravessar o dia inteiro Colorindo o meu terreiro Com as cores do meu pincel Era o meu ninho escondido atrás da casa Logo eu dono da asa trocava as cores do ar Eu só queria atravessar o meu terreiro E colorir o mundo inteiro Com as cores do meu olhar De rosto manso trazia um sonho pequeno E de semblante sereno, sorria sem perceber Me embriagava de afinidades com a Lua E a garotada da rua ficava por entender Era impossível esconder o meu segredo Pois a regra do brinquedo exigia pés no chão Eu bem sabia que esta vida continua Mas as palavras da Lua tinha força de expressão Era de fato uma ironia do destino Pois o pobre do menino mal sabia soletrar A poesia que encontrava trás dos montes Que cercavam os horizontes e permitiam sonhar Era motivo de reunião na calçada Tantos recados da fada pra fugir da obrigação E a vizinhança se apossava da lembrança De seu tempo de criança que fugiu do coração E essa agora eu era feio alma penada Assustando a meninada com argumentos profundos era feliz Se não me falhe a memória Hoje eu sei que a minha história se espalhava pelo mundo Sabia tanto esconder-me atrás do manto Que era chamado de santo sem menor razão de ser Mas na verdade era justa confiança Se o poeta é criança, o que se há de fazer?