Sou lenha seca, cerne antigo endurecido Alma silente que, no pago, enraizou! Cruzei invernos e vi campos florescidos Nessa existência, onde o tempo me moldou! Ergui meus galhos para o céu dos descampados Topei os ventos que chegaram de roldão! E criei casca para o golpe do machado E aprofundei minhas raízes nesse chão! Carrego o tombo na vertigem da memória O vai-e-vem da dentição do traçador! Sangrando a seiva, começando a nova história Numa estirada demarcando o corredor! Eu já fui sombra, fui madeira, fui divisa Hoje sou lenha a consolar um rancho só! Pois seja terra, seja areia ou mesmo cinza No fim do jogo, tudo um dia vai ser pó! Sou lenha seca no galpão envelhecido Já fui palanque, poste e trama de coxilha Contendo touros, entre choques e mugidos A prenunciarem movimentos de novilhas! Veio a lavoura unificar as invernadas E desmanchar, pra sempre, os velhos aramados Erguendo pilhas dessas tramas falquejadas E dos palanques, descartando os estragados! Sou lenha seca, nesse estágio derradeiro Para aquecer algum campeiro como eu Que ainda resta, num galpão sem companheiros Lembrando um tempo que, faz tempo, se perdeu!