Vou pedir pra você imaginar a dor Agora imagine uma cor Cresceu na favela e toda vida lutou O Estado chega junto saqueando o que sobrou As regras da sociedade são seu tribunal Condenado perpetuamente à condição de marginal Sigo repetindo sempre, por bem ou por mal Nem todo decreto de lei é moral Guerra Fria em pleno século XXI Mais outro que foi alvejado aqui na Zona Sul Independente se é Capão ou Grajaú A burguesia quer mesmo é que cê tome no cu Mais de quinhentos anos de futuro incerto Hoje somos um hospício ao céu aberto Mendigos sem rumo Na cidade de concreto Pra isso, eles sempre negam seus decretos Na selva é morra ou mate Sobreviva ao blackout Militarismo selvagem Sobreviva ao blackout Agora imagine como deve ser difícil A sua cor é seu orgulho E seu sacrifício Julgam pela cor da pele Dizem que não tem ofício Não tenho dúvidas sobre o que acredito Depois de tudo, será que tu acredita? Dizem que o Brasil Não é um país racista Se liga no padrão abordado pela polícia Ser negro no Brasil É como nascer suicida Quem te disse isso, mano? Eles perguntam Sigo no meu canto observando essa luta Esculacho ou algema? Qual deles mais te machuca? A abolição está vindo de tartaruga Eles sempre dizem Que eu falo de mais Mas meu dever é sempre Lutar pela paz Ninguém nunca vai me calar Aliás Armado de verso e estrofe Eu crio portais Na selva é morra ou mate Sobreviva ao blackout Militarismo selvagem Sobreviva ao blackout A cor não traduz o que tem no coração Porque depois de tudo Tu vai pra baixo do chão Mas acho que já sei porque tu tem essa visão Tu gosta da branca fina, quando tá na tua mansão Censuram a militância, mas resisto Eles romantizam o racismo Tudo virou mi-mi-mi pra esse bando de lixo Mas nada me impede de lutar pelos oprimidos Caminhando e cantando, e seguindo a canção Não vejo ordem e progresso na nossa nação Tudo isso vai acabar em rebelião Quando todos os meus saírem da caverna de Platão Pregar a paz e gritar: Fogo nos racista? Eles não entendem como funciona essa fita Tolerar o intolerável, é o erro de uma vida Mesmo sendo branco, eu dou a cara a tapa e compro a briga A maior burrice se acaso cê não sabia É pregar essa tal de supremacia Em um país feito de várias etnias E ainda achar que os preto tem regalia Ser preto é difícil É sofrido, é foda Mas parece que o racismo no Brasil já virou moda Aí você vê que a militância incomoda Então me vejo escrevendo certo Por linhas tortas