Abro a janela, o dia entra sem pedir licença Mas o teu lado da cama é uma prova, como sentença O café que eu faço sozinho sabe a ironia É como um barco no douro a navegar numa paisagem vazia O silêncio desta casa grita mais alto que uma canção E cada livro que eu não leio tem a tua dedicação Eu tento mudar tudo, apagar-te do meu olhar Mas tu és como o norte que a bússola insiste em dar Eu não controlo, nem disfarço Tu estás em todo o lado, mesmo na ausência És o ar que eu ainda respiro, a minha própria essência És o eco de um adeus que nunca se vai calar A sombra que me segue pra onde quer que eu vá Ponho aquela música que nunca ouvimos os dois Na esperança de criar memórias para o depois Mas cada nota, cada acorde, parece que te chama És a canção que eu não escrevi, o centro do meu drama Pego no telemóvel e o hábito quase me trai De te ligar e dizer que esta saudade não se vai Eu tento encontrar-me noutras que vejo pela rua Mas cada cara é um espelho que reflete só a tua Eu não controlo, nem disfarço Tu estás em todo o lado, mesmo na ausência És o ar que eu ainda respiro, a minha própria essência És o eco de um adeus que nunca se vai calar A sombra que me segue pra onde quer que eu vá Dizem que o tempo resolve, que a distância cura Mas tu não és uma ferida, és a minha própria estrutura Não é só lembrar, é sentir-te na pele, é quase conseguir tocar É como fechar os olhos debaixo de água e ainda ver o mar Tu estás em todo o lado, mesmo na ausência És o ar que eu ainda respiro, a minha própria essência És o eco de um adeus que nunca se vai calar A sombra que me segue pra onde quer que eu vá Ficaste Como a marca de um copo na madeira Ficaste Mesmo sem estar Pra vida inteira