Parece que é de prego, o colchão Na mente nem um sonho, não A insônia, a depressão toma conta de mim O pensamento de morte, é o fim Coração em pedaços, muita dor Não existe remédio, só chamo por favor Nem sei mais o que pensar Um motivo pra viver, eu preciso relembrar A morte ao meu lado, conversa comigo E agora? Cadê meus amigos? Que colava na vida boa, na curtição Na real, era só uma ilusão E a mãe dizia: Presta atenção Acorda! A vida não é isso, não Vida real é sonhar, qual valor um sonho tem? Vale uma vida, vim saber só agora Deitado chorando e o mundo lá fora Era o sonho de bater uma bola Agora tenho que escolher Me matar ou sobreviver Minha mãe tá esperando com orgulho O presente que ela deu ao mundo sem embrulho O choro sufocado, o travesseiro encharcado Sei que ela reza, todo dia E nunca deixou faltar, o principal, a companhia Me dizia sempre bem de perto O mundo é dos espertos Pro sistema, é só mais um Rapaz comum A lei deles vem depois Mas primeiro, a sua alma Queria poder voltar no tempo Fazer diferente o momento Mas agora é daqui pra frente Pensar o diferente Deixar esse papo de ser alguém na vida Pau no cu do sistema, é a alternativa Vou me enganar, pra que? Se o fim é virar pó A vida cotidiana, é bem pior Mais uma desperdiçada com o trabalho, e é só Infeliz, digna de dó Olhe bem ao seu redor Tristeza, desigualdade e pobreza De onde veio essa, tem mais, pode ter certeza E então Quantos mano assim já pensaram em se matar Sem propósito, desilusão, pode crer, pode pá Olhe o passado, olhe o presente Avô, pai, tio, tudo na mesma corrente Doze anos já era o bastante Trabalho ou estudo, e o sonho distante Vejo minha mãe chorando, morte na alma Mãe, a senhora é a melhor, nem se fala Quero ver a senhora se orgulhando Ficava sabendo de um mano trabalhando E um primo se formando Concursado, sempre teve fama No boca a boca, fofoca que chama Trabalhar aqui é normal, é comum de se ver E sonhar não, por quê? Assistir novela, filme, jornal É mal, rotina banal Foda-se o sistema, esse é o meu lema Vou trabalhar a paz, esse é o meu lema Vou correr atrás A caneta já está na mão Mais pesada do que pensa, irmão Acorde, olhe pra dentro de você Esquece o espelho e o que os outros vê O dinheiro é a isca pra enganar Você é mais que isso, vá sonhar No começo você nem percebe Trabalha um, dois, três, quatro anos Só mais vinte, será breve Sinto na pele meu povo entrando em cena Trabalho toda a vida e a morte no final Sem aquele filme de cinema Pro sistema é só mais um Rapaz comum A lei deles vem depois Mas primeiro a sua alma Minhas ideias estão revivendo Eu fico chapado, mó neurose, o tempo está correndo Não quer admitir, mas seus olhos vou abrir Vá sonhar, vá sorrir, vá se permitir Se não admitir, será só mais um Infelizmente é assim, será o comum Mais uma vida em vão, irmão Mais uma vida de escravidão Eu consigo me ver, é bem difícil Minha família, meus manos e um palco fictício Meu pessoal sem entender O que eu tenho a dizer Não acredito que a gente veio até aqui Só pra trabalhar, se omitir Nada disso é sua culpa Guerra e morte, quem paga essa multa? Mais uma vez você se conforma Nem Jesus conseguiu a nossa forma Não me conformo, como posso imaginar? Como que eu vou me pôr no lugar? Na lei do mundão Ignoram o mal e pedem perdão No dia do juízo final, se arrepender pela omissão Qual que é, qual vai ser? O que cê vai fazer? Não sou o último e nem o primeiro A apontar o sistema traiçoeiro