Aí, mano, tenho um trampo pra você Manda seu currículo Tô ouvindo a responsabilidade me chamar Chegou a vida adulta, eu tenho que trampar Eu não consigo ouvir quem é que me chama É tipo a voz divina, não, não, Deus não trampava Será? Ouvi que seis dias e no sétimo descansou Algo assim que eu li na Bíblia do pastor E as tia falando: A paz do Senhor Trabalhador, santo por uma era Humilde pra caralho, mó miséria Um trabalhador, escravo de firma Se perguntar, sempre confirma Também, mó alienado, só assiste TV Um zé ninguém, pode crer Putz, ser esse mano é foda Mó vida nervosa, deve até umas horas Uniforme é moda e vende a alma por esmola E veio falar pra mim De uma oportunidade lá no Itaim Mas sem essa, meu irmão, eu não quero ser assim Vida de escravo é tão ruim Não pensei, aceitei, na entrevista eu colei, pronto Agora a voz divina é pra bater o ponto Todo mundo com a mão pro alto, é um assalto, vão Ter que trabalhar no sábado, e sem reclamação Tão de brincadeira? Não! E você aceita de boca fechada, meu irmão Era o primeiro emprego de carteira assinada Tava mó feliz, mó orgulho pra quebrada Dinheiro na conta, dia cinco chegou Gastei tudo, capitalismo me tomou E aumentou o patrimônio do playboy Cuzão, com fama de ser super-herói E as suas contas estão por vir? Rá, rá, foda-se, e daí? O seu chefe não tem dó Com o cu cheio de dinheiro, e o nariz de pó Sinto uma indignação represada E os meus sonhos morrerem como nada Mas se eu sair daqui, o que é que eu vou fazer? Essa é a vida do CLT Decidi estudar e correr atrás De uns trampos que pagassem mais O estudo e a dedicação Começou a render uns barão Comprava liberdade e aproveitava Uma vida falsa e algo faltava Sempre que eu via, eu estava só Um cara gente fina, mas não tinha o melhor Os meus na pior, querendo o que eu quero Paz, tranquilidade, escravidão zero Sem preconceito, e morte por guerra Todos vivendo em harmonia na terra A luz no fim do túnel, meu irmão É o caminho da libertação Vamos, vai, chegamos Bem ali no portão Eu e meus manos Como é que é meu povo? Me refiro ao todo Não ria, não ria, como se não fosse nada Não ria, não ria, não é piada Entre no jogo, tenha atitude Seja um Robin Hood Fulano cético, de olho aberto Minha mãe dizia ser esperto I'm coming, e chamo vocês Sua voz divina em inglês Lembre-se do seu coração Daquele sentimento de libertação Quando era criança, uma mistura de esperança Felicidade, sem religião Na época de escola, com os manos jogando bola Esquece de tudo ao seu redor Ser feliz era a única preocupação e só Paz, harmonia, alegria e tal Todos os dias eram Natal Junto a cadernos e livros, anos depois A primeira frustração vinda de uma relação a dois Prestou vestibular na universidade Um emprego e dignidade Não sente mais a voz interior Esqueceu o seu próprio valor Adormecida no coração Acorda pra vida, meu irmão Aquele sorriso ao levantar Disposição e alegria em todo lugar Fala de sonhos, amor e tal Quem sabe até na paz mundial Pense bem, que desperdício Sonhos morrendo e sacrifício Dor e crueldade Mó desigualdade Tudo por dinheiro e mais nada Mata seus irmãos, foda-se a quebrada Venda sua alma e entre no esquema Uma parcela de dinheiro e esqueça esses problemas O que eu tô fazendo aqui? Sem propósito na vida, um morador de rua no chão Uma criança com fome e eu com VR na mão É o reflexo da sociedade, acorde para a realidade Nunca é tarde, nós podemos mais Parar com tudo, olhar para trás Uma vida sem escravidão, cê acredita? Sem desigualdade, aquela maldita Sem celular, nem dinheiro Sem guerra, meu parceiro Preciso acreditar até o fim É a única coisa que resta para mim Eu sonho todo dia Com um mundo sem fome e feliz, a velha utopia Descalço na sombra Ouvindo só a melodia das ondas Sonhei com a mulher livre, sem lugar Sem machismo pra tirar Preciso parar é de sonhar Pôr em prática, ou sei lá Tatuar mais meu braço Mexer a cintura pra cima e pra baixo Ninguém quer me ajudar Que solidão, só maconha pra me acompanhar Cadê meus irmãos? Só ouvindo a vida me chamar Nunca desista dos seus sonhos, irmão Questione o sistema até o fim, diga não Nós nunca tentou pra ver Outras ideias, outros rolê Sempre aqueles mesmos papo Dinheiro, trabalho, porra, que chato No celular jogando a vida fora Nada de útil aprendido na escola Aos dezessete, teve que escolher Entre o sonho calmo e a vida de correr No mundo de aparências, você vale o que tem Trabalho, dinheiro, e o capitalismo se mantém E os seus sonhos ficam de lado No fim da vida, é só mais um finado Sem história pra contar E o mundo na mesma, aí não dá Mó saudade de Adão e Eva No paraíso era só eu e ela Hoje você muda até seu rosto Com o dinheiro, tudo a seu gosto É fácil demais, é só uma cirurgia Mas e a paz, e a nossa harmonia? Não sei, não vi, ninguém viu Tiraram da gente e tudo ruiu Prometi pra mim mesmo não cair de novo Ser escravo de dinheiro é meu ovo Não, não e não, eu tô afim de mudar Mudar de vida, outro lugar Sem guerra recente, um mundo novo, sei lá Eu só quero é relaxar Dormir e sonhar é o escape pra mim Esquecer dos problemas ruim De dia, mó barulho, buzina e vozes Vários pensamentos, mó neurose O sentido da vida, qual é o fim? Busca pela felicidade, eu que recitei Logo quem? Logo eu, olha só, ó Que sempre fui quieto e só Deixei de ser bobo e desliguei a fé Questionei o que o sistema quer Maior que a vontade, o que eu tenho é indignação À desigualdade, ao preconceito, à escravidão Com os meus aliados, meus mano, meus parceiro Uns contra os outros, querendo se matar por dinheiro Assim as vidas se vão Com todos os sonhos enterrados no caixão Mas uma criança nasceu Com os sonhos parecidos com o seu E então, me diz Esse pivete merece ser feliz? Sem saber o que é guerra ou tortura Conhecer a paz e várias culturas Acho que é bem do seu direito Foi tatuado no seu peito Liberdade e sentimento feliz Dizei: Meu Deus, foi eu que fiz Mas querida mãe, proteja o seu menino O sistema agora guia o seu destino Se na vida ele der sorte 50 anos de escravidão, e depois morte Sem dinheiro não dá para viver Homem morto, sarjeta, vem ver E aí, o que é que cê vai fazer? Deixar seu filho pra subviver? É domingo à noite, deita para dormir A rotina jaz, segunda está por vir Você não vê a escravidão, sei lá, finge que não Assim é mais fácil, congela o coração Esquece os seus sonhos, a liberdade, tudo para o ar Fuma um cigarro e enche a cara no bar E aí, aquele sonho lá? Tem que trabalhar, tem que trabalhar Tem umas coisas que não dá para observar Que tem muito valor, e você nem para para pensar A sombra das árvores na rua, as crianças Uma vista do pôr do Sol, a esperança Dez segundos depois e você já largou de mão Dois mendigos caminham em sua direção Não tem dinheiro, e nem migalha É só isso que eles querem, e você o que muda? Nada! Ouça o seu coração bater diferente A sua voz divina é um presente Uma arma dourada e reluzente Aí, mano, a voz divina está dentro de você Tome cuidado com o governo e o Estado Cuide da mente Vai viver sem medo das lentes Mas se eu sair daqui, o que é que eu vou fazer? É preciso sobreviver