Apareceu na sombra da estrada Passos leves, olhar selvagem Tinha o jeito de um cão errante Mas era mais, muito mais que imagem Não era bicho que se nomeia Nem felino, nem ave no ar Era um mistério que rastejava E me fitava sem se explicar O bicho, o enigma vivo Me tocou e eu tremi de emoção Mas sua pele, tão suave e fria Só deixou no peito uma interrogação Minhoca estranha, de pele mole Mas forte como a pedra ao chão Seu silêncio falava mais alto Que mil palavras sem direção Se enroscou em minha lembrança Sussurrou sem nunca falar E quando a brisa soprou seu nome Foi embora sem se despedir O bicho, o ser intrigante Vive agora dentro de mim Não me feriu, não me prendeu Só me deixou o que não tem fim Talvez um sonho, talvez verdade Talvez um eco do que eu já fui Mas sei que o bicho, que me envolveu Na minha alma deixou sua luz O bicho partiu como um sopro Mas seu mistério ainda está no ar Na pele, no vento, no tempo No olhar de quem sabe escutar