Ei, tem hora que tudo desmorona Você perde o trampo, perde a mulher, perde o chão E o mundo não para pra perguntar se você tá bem Mas quer saber? Foda-se Eu levantei sozinho E agora? Agora é guerra de novo Ela se foi e levou tudo, até a paz da sala Deixou só o eco, a culpa e a mente em bala A cama virou campo de batalha, o café esfria ao lado do silêncio que não falha Tentei gritar, mas ninguém ouviu Tentei sumir, mas nem o escuro me engoliu O mundo me cuspiu com gosto, com raiva Mas eu sou cria da lama Forjado sem trégua Na carteira, nada No peito, guerra Na alma, estilhaço No bolso, terra Mas mesmo quebrado pelo peso do abandono Eu levantei na raça, sem precisar de trono Cada passo pro trampo foi um murro no orgulho Comendo migalha, mas sonhando alto no barulho Chorei no busão, fingi sorriso no serviço Mas quando entrei no treino, virei meu próprio exorcismo Me diz: Cadê tua força agora? Na hora boa, todo mundo bate no peito Na ruim, só os monstros continuam andando Essa é minha guerra de novo, caralho Levantei da cinza sem precisar de atalho Perdi tudo, mas mantive o coração de ferro E hoje eu treino com a riva de um exército inteiro Me abandonaram, eu viro titã No meio do caos, eu faço a minha manhã Enquanto choram, eu suo Enquanto param, eu vou Porque quem sobrevive ao inferno nunca mais treme, bro Comi arroz puro, dormi no chão, trabalhei de Sol a Sol Com sangue na mão, recolhi os pedaços da minha dignidade Fiz deles meu altar de brutalidade Ela me esqueceu, mas o espelho não Ele me mostrava quem eu era: O maldito leão E cada treino virou vingança silenciosa Enquanto ela postava, eu calava com uma reta monstruosa Botava carga como se fosse punhal Pra cada vez que me chamaram de lixo social Cada drop de suor foi um grito que ninguém ouviu Mas eu ouvi E jurei: Ninguém mais me destrói, viu? A noite era longa, sem beijo, sem lar Mas no ferro eu criei um lugar pra recomeçar E jurei ali, entre os pesos e a dor Que eu ia virar monstro por mim, por rancor Ninguém veio me salvar E talvez foi a melhor coisa que me aconteceu Porque quando você entende que tá sozinho Você vira máquina frio calculista imparável Essa é minha guerra Não me tira do rumo Sou o monstro que nasceu quando eu perdi todo mundo Treino com fúria, com dor, com cicatriz Porque quem perdeu tudo não tem pra onde fugir Aquele fraco morreu naquele dia Hoje eu sou a sombra do que você fugia Olha pra mim, eu tô de pé, desgraça E cada treino me leva mais perto da casa Agora eles me olham com respeito forçado Mas eu lembro quem sumiu quando eu tava quebrado Não guardo rancor Guardo no shape, no olhar, o motor Tô blindado, calejado, pronto pro mundo Não preciso de tapinha nas costas ou assunto Meus parceiros são ferro, suor, espelho e minha motivação Inferno que já vi de joelho Hoje eu como certo, durmo pouco, levanto cedo Não por estética, mas pra me manter no degredo Porque o conforto enfraquece A dor educa E cada treino é oração que o monstro escuta Acordo com sangue nos olhos e meta na veia Porque eu sei que no final, quem falha é quem deixa E eu não deixo, não largo, não paro Prefiro morrer exausto do que viver fraco Essa é minha guerra E eu sou a porra da chama que manda na dor, forjada na chaga Meu legado é pra quem tá na merda Pra quem ainda escolhe lutar mesmo sem ter mais nada Se tu tá sozinho, escuta essa voz Levanta enfrenta não vai ficar Então bate mais forte, porque nóis é monstro Nóis é a porra da sorte Ela se foi O mundo virou as costas Mas eu fiquei E agora eu sou o inferno Eu sou a tempestade Eu sou a porra da guerra E ninguém vai me parar