Coroaram a minha cabeça com flores mortas Você venceu, sussurram as vozes tortas Ela dança leve entre os galhos E eu rastejo entre raízes com medalhas como calos O orvalho brilha mais arde na pele A vitória tem gosto de seiva que repele Ela voa livre como quem nasceu para flores E eu sou só mais uma planta tentando não sumir Me pintam com pólen, mas é venenoso Meu brilho é de lodo, um reflexo duvidoso Ganhei o troféu, mas foi enraizado na dor Enquanto ela floresce, eu imploro por cor As folhas caem e me enterram num silêncio Ela dança no ar e eu fico no esquecimento Enquanto o vento a leva para longe do chão Eu me afundo na terra sem direção Fui podada para caber num jardim enfeitado Enquanto ela cresce selvagem, destemida e ao meu lado O amor rega tudo que ela é E eu só recebo chuva quando tento ficar de pé, de pé Me pintam com pólen, mas é venenoso Meu brilho é de lodo Um reflexo duvidoso Ganhei o troféu, mas foi enraizado na dor Enquanto ela floresce, eu imploro por cor Fui podada com zelo flor para enfeitar o altar Plantada no Éden para nunca desabrochar Mas quando exalei meu cheiro original Disseram tá podre me chutaram do portal Disseram que eu era praga disfarçada de flor Que destruir o paraíso com o meu próprio sabor Não fui expulsa, fui cuspida do céu Por ser de verdade e não de papel Se eu gritasse na mata, alguém ouviria? Ou só mais um broto preso na folhagem fria Ganhei ramos dourados, mas perdi meu perfume E no fim sou só uma sombra no vazio que me consome Me pintam com pólen, mas é venenoso Meu brilho é de lodo, um reflexo duvidoso Fui orgulho plantado para exibir, mas quem nunca foi livre só aprende a fingir Mas quem venceu de verdade? A borboleta no ar ou eu presa no caule? (Muris-Murisquitta)