Eu cavouco as paredes da minha memória Tem cheiro de mofo, tem gosto de nó As palavras que engoli viraram carne E agora se mexem, tentando sair de mim Fui empurrada pra dentro de uma ferida aberta Me alimentaram de excremento e mentiras Agora tudo dentro de mim fede a podridão E o que escorre de mim é carne em decomposição São larvas, larvas, larvas Rastejando por dentro do meu peito Cavando túneis na carne da infância Fazendo ninho onde eu guardei segredos São larvas, larvas, larvas Do que não chorei, do que engoli Do que disseram pra esquecer E agora fede dentro de mim São larvas, larvas, larvas Que dançam nas feridas abertas Se multiplicam quando me calo E me comem viva quando sorrio Me enfiaram rótulos como pregos Bonita, quieta, educada demais E eu sorri com a boca cheia de sangue Engolindo minhocas junto com os tudo bem Cada elogio era uma pá de terra Sobre o que eu queria gritar Agora crescem bichos no meu estômago E chamam isso de maturar Fui empurrada pra dentro de uma ferida aberta Me alimentaram de excremento e mentiras Agora tudo dentro de mim fede a podridão E o que escorre de mim é carne em decomposição São larvas, larvas, larvas Rastejando por dentro do meu peito Cavando túneis na carne da infância Fazendo ninho onde eu guardei segredos São larvas, larvas, larvas Do que não chorei, do que engoli Do que disseram pra esquecer E agora fede dentro de mim São larvas, larvas, larvas Que dançam nas feridas abertas Se multiplicam quando me calo E me comem viva quando sorrio Eu sou o corpo esquecido na floresta Cheio de cartas não enviadas Com os olhos abertos, mas vazios Esperando que alguém me veja apodrecer Se nascer algo de mim, não será flor Será bicho Será grito Será o que sobrou de quem não pôde florescer São larvas, larvas Crescendo por dentro de mim Se um dia eu virar borboleta Vai ser com asas de cicatriz