Ela era moça bonita De vestido e coração Sonhava com vida feita De flor, véu e canção Veio o moço bem falante Com discurso e posição Fez da casa um pedestal Fez da moça um troféu em exposição Ela aprendeu a calar Pra não perder o chão Engoliu o próprio brilho Pra brilhar no padrão Foram tantos anos longos De silêncio e ilusão Até que a vida mostrou Que ele era só enganação Foi embora sem suporte Sem desculpa, sem perdão Morreu longe, frio e só Como morre a ingratidão Depois veio outro sorriso Com sotaque de maré Menino, cheio de brilho Mas por dentro um mané Era um barco à deriva Sem leme, sem direção Fez do amor um vampiro E da casa, um furacão Ela fingia que amava Pra não ver o fim chegar Até que o tapa veio seco E a coragem resolveu ficar Ela botou ele na rua Com a alma em carne viva Fechou a porta chorando Mas saiu dali altiva Prometeu pra si mesma Mais ninguém vai me quebrar E viveu por um tempo Sem deixar ninguém entrar Mas um dia Veio um riso sem defesa Veio um homem com tristeza Feita do mesmo lugar Ele viu sua armadura E não tentou arrancar Só sentou do lado dela E disse: Pode chorar Ele soube escutar Soube rir, respeitar E no silêncio da escuta Fez a força dela voltar Hoje ela canta com calma Com tambor no coração Do lado de cá do adeus Ela é samba ela é canção