Quem foi que esqueceu a chave? Quem foi que apagou a luz? Quem deixou na mesa o beijo Que me seduz? Você chegou sem hora E eu fingia ter relógio Tava tudo tão em ordem Até você bagunçar meu ócio Veio com as plantas, os bichos Um dicionário de gestos Um olhar que muda os móveis E um silêncio meio honesto Tomou o sofá de assalto Reformou meu coração Fez da minha solidão Um samba em contraposição Se eu me chamar de volta Finja que não ouvi Deixe eu me perder em você Como um verso que nunca escrevi Se eu disser que é passageiro Trate como vocação E me ensine o itinerário De voltar pra tua mão Tem feijão no seu cabelo Tem notícia no seu tom Você fala de política Como quem reza um baião Tem febre no teu abraço Tem descanso no teu pé Me desmonta em dois cochilos Me refaz com um cafuné E no meio da bagunça Nosso amor põe o avental Vai lavando as mágoas velhas No tanque do bem e do mal Se eu duvidar de mim Me empresta tua fé Que o teu sim é moradia E o teu não, não me dá ré Se eu sair sem despedida Me espera no portão Você é meu desatino E também minha razão E quando a porta bater Não ache que fui embora Talvez só precise lembrar De quem sou Quando você demora