(Rádio: Atenção, ele anda por aí) Passo em silêncio, ninguém sente Assustando criança, falam em toda esquina Cuidado com ele na floresta densa Eu juro, nem lembro das mentiras que inventam– Popular no medo, viro lenda, mas quem me conhece entende Só veem os dentes, esquecem o resto do bicho, que sente Eu estalo entre frestas, esperando meu momento Na moda antiga ou no conto, sou lobo e pronto Carne e instinto, olho de fome, mas será tão simples assim? Só retalho do que contam sobre mim– No rádio velha, sempre aquele findo aviso (Rádio: Vou soprar, soprar até sua casa cair!) Quero ver quem encara Mas nem tudo é como parece Me escondo só pra lembrar Medo é só o que te fortalece Lobo mau não dorme! Só espera a sua vez– (Me ouve?) Falam demais, mas ninguém calça essa pata Cês querem justiça, mas a história é riscada Cada conto, cada página, sangue no prato Eu não pedi pra nascer predador e alvo na caça Debaixo da pelagem tem ferida de infância Palha, madeira, tijolo? Só barreira pra esperança Eu chego, não bato, só observo Quem me pinta monstro nunca me olhou nos nervo– Cresci sem abraço, só espreita e paranoia Em casa de avó ou mato fechado, desvio da história (Rádio: Eu tô chegando, quer correr ou encarar? ) Lobo mau não dorme! Só espera a sua vez– Quando a Lua chama, quem não sente tremor? Quem foi herói nesses contos nunca sentiu meu rancor Se todo medo é humano, por que só eu sou o vilão? Ou será que não vê o bicho em seu próprio coração? Repetem em: Fujam! Mas nunca perguntam Um dia soturno é só rotina pra quem caça e nunca encontra Sou carnificina? Ou o sintoma do teu pânico? Sou só real demais pra caber no teu clássico (Rádio: Já avisei, criança, não confie em tudo que te contam!) Lobo mau não dorme! Só espera a sua vez–