Que judiaria guria Nós dois, se querendo tanto Tão pertos, e tão apartados O destino calavera Fechou pra nós a porteira Deixando a gente embretados Eu de cá, te cobiçando Tu de lá, zóio cumprido E um sentimento doido Apertando o coração! Só o vento companheiro Serve, de nosso chasqueiro Traz suspiros de saudade Leva notas, de afeição De noite, quando solito No meu rancho me arrincono E o pensamento vagueia Que nem cachorro sem dono Fareja a lembrança tua Uivando, olhando pra lua Que a saudade não tem sono Se mateando me distraio Acarinhando essa cuia Arredondada e pequena É como se acarinhasse A tua carinha morena Olho pra dentro do mate Entre água, erva e espuma Lampeja a luz do lampião E os meus olhos se perderam Sabe o que é que eles estão vendo Teus zoinho pedichão E quando a franja do pala Por entre os dedos, tenteio Num descuidado passeio Fingindo, vaidade, e zelo Como um piazinho sonhando Eu brinco que estou brincando Com a seda dos teus cabelos Se no meu catre me atiro Pro meu descanso sozinho Me viro, viro, e reviro Pensando nos teus achegos E a maciez dos pelegos Parece que tem espinhos Peleio com os pensamentos Esporeio os sentimentos Do coração aporreado E me queixo, abichornado Da madrugada que é fria Que judiaria guria Nós dois, se querendo tanto Tão pertos, e tão apartados