A tarde descambava, despacito Numa morosidade de boi manso O Sol se encaminhava pro descanso No seu acampamento na coxilha O gado percorria sua trilha Cotidiana, no rumo do curral E ouvia-se cantar no matagal Um sabiá reunindo sua família No campo, um quero-quero solitário Gritou sem que lhe dessem atenção E a coruja pousada no moirão Cantou baixinho, em tom de mau agouro Nisso rompeu no casarão um choro Que pôs em alvoroço a peonada Era a patroa que, desesperada Aos gritos, provocava aquele estouro A Rita, se sumiu a minha Rita Foi como jogar pedra em lixiguana E por cima um piá veio ventana Disse: O Florêncio não veio pro galpão E a peonada olhando pro patrão Compreendeu o que tinha acontecido E o olhar do velho taura enfurecido Prenunciou que ia haver revolução A Rita era a relíquia da fazenda Um mimo de lindeza e de bondade Um toque de poesia e suavidade Na vida rude em que ali se vivia Levantava cedinho todo o dia Mateava e conversava com a peonada Ela era tão querida e respeitada A Rita, logo a Rita quem diria Florêncio era o mais guapo dos campeiros Por isso foi nomeado capataz Já todos conheciam seu cartaz Numa doma, no laço ou marcação Era estimado assim como um irmão E gostava da Rita, se sabia Mas nunca se pensou que fosse um dia Roubar tão logo a filha do patrão A voz forte cortou os pensamentos Como um trovão na tarde ensolarada Mandando se espalhar a peonada E que trouxessem os dois, mortos ou vivos E todos cavalgaram, pensativos Cada um por caminho diferente Cada um desejando, intimamente Não achar nunca o par de fugitivos A barra cor de rosa do Sol posto Enfeitava ainda o céu lá no poente Soprava um vento morno, quase quente Um vento bom de tarde de verão De repente, ecoou lá no capão O estampido de um tiro, e outro mais E logo, o galopar dos animais Dos peões buscando aquela direção Acharam os dois mortos, bem juntinhos A Rita e o Florêncio, lado a lado Misturando seu sangue derramado E a noite os encobriu com o seu véu Um peão mais velho tirando o chapéu Ajoelhou-se ao lado dos defuntos E pediu: Meus Deus, recebe estes dois juntos Nesta fazenda grande aí no céu