Chega um dia em que o vivente Sem saber, mesmo o porquê Olha no espelho e se vê Maduro, sério, mudado Aquele ouvido apurado Os olhos de gavião A ligeireza da mão E a própria força no braço Vão mermando no compasso Do bater do coração Não é o fim É um recomeço Em que o tempo é moeda nobre Um novo ser se descobrindo Com o dom de refletir Menos falar Mais ouvir Menos pressa Mais vagar Menos julgar Mais perdoar Menos dizer Mais sentir Em vez do ímpeto, a calma Conselho em vez de xingão Mais jeito e moderação Menos medo do futuro Em vez de afoito, seguro Em vez de forte, experiente Menos vaidoso e valente Mais tolerante e mais puro É quando o homem se acha parecido com seu pai E esta semelhança vai se tornando realidade Os arroubos de vaidade se tornam Vagas lembranças E os sonhos de esperanças Viram sonhos de saudade É lindo amadurecer Como a fruta amadurece Pois, como a fruta Parece que a gente Fica mais doce Sem entender como fosse Que agiu a natureza É menos triste a tristeza Mais sossegado o sossego E até o amor e o achego Ganham ternura e beleza O tempo é a ferramenta de Deus Eterno artesão Que vai nos moldando à mão Com perícia e habilidade Nossa personalidade Um caráter firme e reto Toma forma por completo Conforme aumenta a idade Chega um dia em que o vivente Sem saber mesmo porquê Olha no espelho e se vê Maduro, sério, mudado Qualquer mágoa do passado A si mesmo se perdoa E, abraçado na patroa Parceira nessa aventura Bem diz à idade madura A la puxa, que vida boa