No princípio era o breu No princípio era eu No princípio tinha nós, vos Meu cinco anos o papai sumiu Mãe, por que a senhora não vai? Pai, por que o senhor nunca foi? Meus colegas se parecem comigo, hein? Todas as reuniões de pais Mas parecia tudo bem, já que aos 10 eu conheci o rap Mãe, me diz quem é esse homem que em casa me chama de moleque Por que jogou meus desenhos fora? Por que a tratou como futilidade? Por que me impediu de fazer poema? Por que tirou nossa dignidade? Então diz pra mim 12, garotos também sentem depressão Dentro de casa, muita repressão Meu peito igual panela de pressão Se não apita, explode Mas no meu caso implode, gera repulsão Como diria PKAOS: Viver na profundidade é saber lidar com a pressão 15, garotos também amam Por mais que isso pareça complexo Eu querendo falar de amor e de todo seu reflexo A descrevi como prosa, ela me chamou de cético Pretendia levar rosas, ela pensava em (shh) 18, alma jogada no chão, espírito em submersão Mediante a tanta indecisão, dia a dia com constante estresse Quase dez vezes sem ver meu irmão, tanto tempo sentindo solidão Pra quem passou a vida sem direção parece que qualquer caminho serve Mas eu não caí nessa ilusão, fiz o meu plano seguir o coração Fui pras batalha de improvisação e no busão concluí minhas preces Resultado foi sair campeão, ir pra outro estado e rimar no vagão Consegui lançar meu primeiro som, no fundo a voz ainda diz: Cê consegue, porra! 19, não sofro mais com a falta de afeto Fato que agora agora cês escutam meu papo reto Chucro, o erro da cena foi me tratar como feto Trauma? Se música cura, tudo o que canto sarou Trato a vida como se fosse algo mais concreto Farto? Me transbordo de amor, sentimento abstrato Surto? Nunca mais assino algum contrato Se não der certo, eu me mato Tão cirúrgico como a dor do parto Se não der certo, eu me mato Se não der certo, eu me mato Tão cirúrgico como a dor do parto