A cidade dormia com os olhos abertos Mas ninguém via Andavam guiados por clarões falsos Que tremiam ao primeiro trovão Eu vi Vi quando a máscara escorregou E o vitral mostrou a rachadura Vi o reflexo do que negam Vi o que nunca quiseram mostrar Me disseram que a luz era ordem Mas o que me acendeu foi a ruptura Não fui ungido, fui queimado E é isso que me mantém de pé Onde puseram o nome deles Eu escrevi o meu com sangue seco Onde enterraram a dúvida Nasceu o meu olho Ninguém me fecha mais O que eu vi não desaprende A cicatriz não é memória É meu olho permanente Ninguém me fecha mais O clarão agora é meu O que é ferida pra vocês Em mim virou céu Não sou o profeta, sou a falha da escrita A dobra do tempo onde o verbo escapou A página rasgada do cântico O olho aberto onde esperavam véu Abri o que estava trancado Não com chave Com cicatriz Ninguém me fecha mais O que eu vi me transfigura A cicatriz virou sentença E o olhar, partitura