Nos ensinaram a rir De tudo que ameaça o roteiro A verdade virou piada pronta No talk show do carcereiro Chamar de delírio é fácil Quando o silêncio paga bem Eles têm medo do que explode Na cabeça de quem Não cabe mais no amém Vazaram os segredos Mas censuraram a tradução Te deram um mundo encaixotado Pra você chamar de opinião Esconderam cidades Apagaram civilizações Disfarçaram arquivos em teorias Pra enterrar revoluções É proibido saber É proibido pensar Quem pergunta demais Vira inimigo do lugar Derrubaram templos Reescreveram o mapa celeste Mas se você diz isso em voz alta Logo chamam de peste A verdade tá nos ossos Nos desertos escondidos Mas só te dão a lente Que embaça os sentidos Falam em ciência Mas vivem da negação Editam até as emoções Pra caber no padrão É proibido saber É proibido lembrar Eles rebatizam mentiras Pra você nunca desconfiar Sabe aquele som que sua alma reconhece? Eles chamaram de ruído Sabe aquele vulto no céu da infância? Eles chamaram de esquecido Sabe os livros rasgados? As palavras riscadas? As perguntas arquivadas? Pois é Elas eram chaves disfarçadas Eles não temem a bala Temem a lucidez Não temem o grito Temem a vez É proibido saber É proibido escutar Se você ouve demais É melhor se calar Mas não dá Porque o verbo voltou E tá com sede de carne O código vazou E não cabe mais na margem E o que antes era segredo Agora é cicatriz que canta E se é pra incendiar mentiras Que seja com a garganta