Já passa das três da manhã e se não passa pouco deve faltar Ô, 411 já recebeste alguma carta desde que chegamos aqui? Desde que cheguei só recebi uma Da noiva? Não, da minha mãezinha. Já a li um milhão de vezes, e sei Sou capaz de relê-la outro milhão Tens mais sorte do que eu, que ainda não recebi uma linha de Carta desde que viemos parar neste inferno Ora, companheiro, não se desespere. Olha, eu tenho uma ideia As mães quando escrevem dizem sempre as mesmas coisas A linguagem das mães é uma só Isto é verdade. Mas qual é a tua ideia? Vou ler para você a carta de minha mãe Leia, então Aqui na trincheira somos todos irmãos E a carta que eu vou ler Não é minha, é da nossa mãezinha Filho meu Muito querido e adorado Que a graça de Deus contigo esteja As mãos de tua mãe estão tremendo Pedindo a Deus que muito te proteja A ti e aos teus bravos companheiros Nesta hora de incerteza e ansiedade E Deus que é tão bom e justiceiro Ouve as preces feitas com sinceridade Estás chorando? Eu não, e tu? Ah, também não Pois um soldado não chora Também não devo chorar Devo honrar a farda que visto Minha pátria também devo honrar Acima de todas as coisas Pois sou forte não temo lutar Sou soldado, honro a farda que visto E um soldado não deve chorar