No véu das horas tortas eu tentei me esconder Mas o eco do teu nome não queria se calar Cicatrizes em espiral dançavam na pele Um ritual sem fim, feito só pra me lembrar E o tempo, esse carcereiro Dobrou-se em nós como um fio incendiado Eu tentei fugir do espelho Mas vi tua sombra, intacta, ao meu lado Posterguei a imensa dor que nasceu do nosso amor Como um grito que afunda nos ossos sem ruído Me dissolvo na fratura desse ardor Navegando no abismo que deixaste escondido No deserto das promessas, construí um altar de sal Esperando por um milagre que tardava a respirar Cada gesto teu virava uma tempestade mineral E eu me perdia em sigilos que não consegui decifrar Mas os astros, desobedientes Insistiam em traçar teu nome nas constelações Eu fechei os olhos na contracorrente Mas o mundo girou pra dentro das minhas pulsações Posterguei a imensa dor que nasceu do nosso amor Como um canto quebrado entre o céu e o torpor Eu me curvei ao peso desse fulgor Sabendo que a queda era o nosso último favor Se eu pudesse desfazer o mapa das marés Voltaria ao instante em que te vi sem me perder Mas a maré é um vício que não retrocede E leva contigo tudo o que não quis entender Posterguei a imensa dor que nasceu do nosso amor Mas ela volta, faminta, pedindo o que restou No sussurro das ruínas, ouço teu calor E o silêncio, enfim, me diz: Quem somos nós, se não a dor?