Sábado de manhã, o céu cinza respira em neblina O parque transborda corpos e cartazes vendendo serotonina Poderíamos dançar nessa onda elétrica de luz Mas a vida escolheu o trilho áspero, onde o cotidiano nos conduz Se saudade fosse um livro, eu ergueria cem prateleiras em teu nome Cartografando cada ausência, cada corte suave que consome E mesmo entre pesos, ruídos e restos do que não foi Sinto que estás bem, e talvez o caminho certo nunca nos inclui Na dobra do destino, o acaso sussurra teu retrato E o tempo, cego, recolhe os passos que deixei espalhados Se fosse o dono do tempo, ousaria dizer Que todas as falhas que tive foram por não saber Que você é o melhor de mim Que o meu sangue pulsa em ti E que um dia, um dia, seremos felizes, enfim O vento arrasta lembranças como páginas incendiadas E cada uma escreve teu nome em grafias desalinhadas O que fomos ainda ecoa no chão rachado do ontem Mas sigo, mesmo torto, sabendo que a paz te encontra onde esteja Entre antenas de sombra e ruídos de neon Teu riso fantasma vibra no meu pulmão Arquiteturas de silêncio se erguem ao redor Mas ainda escuto o que deixamos: Um sussurro que não morreu Se fosse o dono do tempo, ousaria dizer Que todas as falhas que tive foram por não saber Que você é o melhor de mim Que o meu sangue pulsa em ti E que um dia, mesmo distantes, seremos felizes No compasso que a vida permitir