Irreconhecível, serás tu em tua moldura fraturada Perto da juventude adormecida em formol lunar Vejo teus contornos se partirem em cidades evaporadas Enquanto o pulso do passado tenta se reanimar Perderás a ambição de violar os limites impostos Como pássaros cegos batendo no vidro do destino O tempo mastigará tudo e cuspirá em ecos roucos Transformando cada o que é em um fantasma cristalino Teu espírito, uma chama presa em frascos, vai morrer na mão do hábito Tua mente, até ontem febril, render-se-á ao ruído estático E encontrarás algum lugar onde possas enterrar tuas canções Esconder teus objetos como restos de um Deus que falhou Engolirás o grito de revolução por medo das multidões Pra que riam menos de ti, pra que teu rosto pareça normal ao que restou Olha o que ficou olha o que se perdeu, e nada voltará Eu não seguirei teu ciclo, não vestirei essa pele de evolução forçada Mesmo que tentem estrangular o brilho cru da minha voz Mesmo que eu sangre na fenda onde a resistência é selada Eu erguerei meu próprio templo no caos que vive em nós Não desanimar, nunca esquecer Pois só desabo se me tornar tua sombra enrijecida Se eu for igual a você, queimada a chama do que quero ser As portas se fecham, a janela se rende, a alma fica perseguida Isso se eu for igual (isso se eu for igual) Isso se eu for igual a você (igual a você) Se eu deixar cair (se eu deixar cair) Se eu deixar adormecer (deixar adormecer) Mas não, não adormecerei O canto que resiste ainda queime Ainda fira Ainda me salve do teu esquecer