Esta milonga que eu canto é fruto de meus tormentos Retalhos de sofrimento que ao som de um pinho dolente Convence a qualquer vivente que o desprezo de uma China Nos fere mas nos ensina a cantar o que a alma sente Por isso eu canto milonga como quem faz uma prece Só ela a dor me esparece nas noites que eu perco o sono Quando no meu abandono eu ouço as vozes do vento Dizer num triste lamento: Teu amor tem outro dono Milonga seja discreta e console com muito jeito O sonho de amor desfeito de quem padece escondido Faça por mim um pedido: Que ninguém se desespere Porque quem com ferro fere, com ferro será ferido Depois leve esta mensagem na campanha ou na cidade No meio da sociedade, em qualquer roda grã-fina Onde muita gente fina, que ocultam seus passados São como eu desprezados, escravos da mesma sina Sei que os felizes no amor não vão te dar atenção Pois tua nobre missão só o sofredor reconhece Tu és a chama que aquece um coração que agoniza E o bálsamo que suaviza as dores de quem padece