Chego a casa já perto das dez Venho ensopado da cabeça aos pés A meio caminho furou-se um pneu Liguei pra assistência, ninguém me atendeu Há uma avaria no elevador Cai-me a mochila com o computador Subo a escada a olhar para o chão Não há luz na entrada Que dia de cão Ai de mim Que feitiçaria, macumba ou magia me tramam assim? Ai de mim Que raio de fado, que azar, mau-olhado me enguiçou assim Ai de mim Vou à cozinha, há um tacho na mesa Tem massa de atum Não há sobremesa Jantaste sozinha e foste dormir Calculo o sermão que está para vir A sala está cheia de pelos do gato O raio do bicho estragou-me um sapato Eu entro no duche e abro a torneira Talvez aqui passe a noite inteira Ai de mim Que feitiçaria, macumba ou magia me tramam assim? Ai de mim Que raio de fado, que azar, mau-olhado me enguiçou assim Ai de mim O banho quente podia ajudar Não fosse a hora do gás acabar Olho no rosto no espelho a aparecer Mal me revejo Estou a envelhecer Ao fundo do corredor Eu vejo a porta do quarto entreaberta Vejo a luz do televisor Sinal de que ainda estás desperta Oiço já pouco distante A tua voz que do quarto me chama Encontro-te deslumbrante Em camisa de noite À espera na cama Assim, sim Que feitiçaria, macumba ou magia caiu sobre mim Assim, sim Que fiz que levasse a que Deus te criasse perfeita pra mim Assim, sim Assim, sim Que feitiçaria, macumba ou magia caiu sobre mim Assim, sim Que fiz que levasse a que Deus te criasse perfeita pra mim Assim, sim Assim, sim Assim, sim Assim, sim