Ela lava e passa Ela passa e lava Ela leva incerteza e enxágua triste num balde Com água Ela cedo madruga E precisa de ajuda Mas não dá para esperar E nem pode atrasar No busão pra labuta Chega quieta Vai embora calada Não mora na casa mas serve comida E roupa lavada Ela serve o almoço Mas não senta-se a mesa Faz seu prato solitário na cozinha e almoça sozinha Até parece novela, o núcleo pobre da trama Ninguém pergunta onde mora Ninguém conhece seu drama Mas ela é muito bem paga Para cuidar dos meus filhos Só não tem tempo pros seus Mas isso também já não é problema meu Mas num belo dia, maria faltou Sem nem avisar, não atendeu celular E o patrão descontou! Onde já se viu? Nos deixar na mão O tanque tá cheio, a pia entupiu e tá sujo o fogão Mas no almoço o jornal, que tragédia danada Dizia que a própria polícia matara a mulher arrastada Coincidência terrível, era nossa empregada Lá se vai uma semana sem comida pronta e roupa lavada!