Num canhadão junto as casas a baia carpa da cria Na hora da ave Maria no dia em que o Cristo nasce Sem pedir que batizasse aquele potro salino Atendeu por natalino na antiga rima pampeana Foi quando a sina aragana assinalou seu destino E o torcido foi nos pulso estendendo em terra bruta a mão ligeira executa E o serviço já tá feito, não existe outro jeito depois que armada se cerra O rubro desenha a terra quando a sangria desata E uma ponta de tristeza, se amoita no coração Quando um potro vai pro chão na crueldade da capa Depois de três primaveras empessando a pega de potro O tordilho era outro a franja cruzando a venta Ajeitar as ferramentas, bocal, cabresto, lombilho E derrubar o tordilho depois de manear de encontro E assim que se ajeita um potro na antiga doma torena Foi preciso três home pra lidar com esse ventena Confesso que nunca vi já no primeiro galope Um potro negar tão forte na saída do palanque Metendo a Mão pela cara, tirando as rédeas pro chão A pata buscou o garrão quando o índio pediu a solta E a cachorrada na escolta mangueou de volta o matreiro Que despachou até o bacheiro quando corcoveou na volta Quando voltou pra mangueira com os olhos que eram um brasão Se sabia de antemão que o tordilho natalino Não aceitara o destino e a sina de ser bagual E repetiu o ritual até o oitavo galope Nunca se soube do trote se era duro ou macio E garanto que ninguém viu um outro aguentar três pulo Foram-se espalhando os pulos no carpeteio da doma Estraviaram-se caronas partiram rédeas no meio Consumiram com arreios na esperança de amansalo Mas nunca se fez cavalo de freio o filho da baia, não demorou nas redondeza Pra corre a fama do potro foi derrubando um e outro E um mato de figueira foi plantado no potreiro Se compreendeu que o matreiro nasceu pra ser aporreado E o patrão achando lindo deu um toso no malino e deixou pra reservado A fama foi recorrendo os bolichos e velórios Virou até repertorio de uma rima pacholeada Que um cantor improvisava numa rima de aporfia Pra aparecer pras guria nas tardes de carreirada Morena dos olhos lindos Se tu olhares pra mim Eu ajeito o natalino Pra o teu andar de selin Eu ajeito o natalino Pra o teu andar de selin Foi se tornando legenda na charla em volta do fogo Era motivo de jogo nas rodas do chimarrão Foi que o filho do patrão por moço numa bravata Ajeitou umas cordas de prata e apostou com a peonada Que amansava o tordilho e entregava de lombilho Pra o andar da namora, e foi num final de tarde Que se cumpriu a promessa depois que o destino embesta Ninguém ataca o paisano, foi pra uma briga de mano que puxaram o reservado O patrãozinho estrivado tinha coragem de sobra Mas a vida emprime as norma e o luto vestiu a casa O potro pegou na volta e atirou o cristão pra frente E não mais que de repente pisou o pescoço do moço E aquela tarde de agosto É a mais triste que carrego O patrão tornousse cego por ver o filho sem vida Por ser tão grande a ferida palmeou a arma do diabo E o estampido deu cabo na fama desse tordilho Como compreender o destino e entender as voltas da vida Pois quem se criou na lida entendia o natalino Tinha a marca do destino dos que nasceram libertos E morreu no céu aberto defendendo sua vontade Quando o dedo da maldade disparou inconseqüente Eu lembrei da minha gente que tombou por liberdade O patrão desatinado Contrariando a nossa crença pela dor e o desespero Mandou enterrar o matreiro num quebrado de coxilha Nem retirou as ensilha se foi com tudo pra campa É quando a terra acalambra e imprime a aridez do sal E mesmo na primavera que vem aflorando o pasto É certo naquele espaço não brota sequer chircal A terra morreu por triste Secou em volta do tumulo Dizem que às vezes no escuro a tumba ilumina e brilha Clareada num fogaréu, despregando-se do céu estrelas miúdas do agosto Dizem que as cordas do moço se desenham no relento Firmado no céu azul Quando o cruzeiro do sul Quando o cruzeiro do sul Renasce no firmamento